Por que a liquidez em queda pode sinalizar a próxima crise financeira

Publicado por Javier Ricardo


Investidores nervosos estão abandonando os mercados de valores mobiliários em um ritmo acelerado, causando uma queda significativa na liquidez que tem paralelos preocupantes com os estágios iniciais da crise financeira de 2008, de acordo com um relatório do Deutsche Bank.
A crise de uma década atrás ajudou a produzir uma severa recessão econômica global e fez as ações despencarem em todo o mundo, com o índice S&P 500 (SPX) perdendo mais da metade de seu valor em um mercado em baixa.

Significância para investidores


O risco é que a queda de liquidez de hoje produza uma volatilidade cada vez maior na forma de oscilações gigantescas nos preços dos ativos financeiros, de acordo com o relatório do Deutsche Bank citado em detalhes pelo Business Insider.
Em 2008, é claro, essas oscilações levaram a fortes quedas gerais das ações, em vez de ganhos. “Lembramos que a reversão dos fundos de quantia em agosto de 2007 e dos fundos macro em outubro de 2015 foram os arautos da turbulência do mercado subsequente”, observa o Deutsche Bank. Eles observam que os resgates de fundos de hedge aumentaram desde outubro de 2018. Enquanto isso, caixa e equivalentes de caixa estiveram entre os ativos de melhor desempenho em 2018, conforme os investidores diminuem suas participações em ações e títulos, de acordo com outro relatório da Investopedia.


O veterano investidor bilionário Stanley Druckenmiller, ex-administrador do Quantum Fund fundado por George Soros, expressou preocupações semelhantes.
“Com o aperto monetário, estamos meio que naquele estágio do ciclo em que as bombas estão explodindo”, alertou ele, conforme citado em um artigo anterior do Business Insider. “Será uma redução da liquidez que desencadeia a coisa toda”, acrescentou.


Afirmar que a liquidez está diminuindo nos mercados financeiros é outra maneira de dizer que o número de compradores dispostos e a quantidade de fundos que eles estão dispostos a comprometer em suas compras estão diminuindo.
Isso, por sua vez, significa que os vendedores têm que aceitar preços cada vez mais baixos para atrair compradores e liquidar seus próprios investimentos.


Outro fator é a mudança do papel dos bancos centrais mundiais.
Uma década atrás, eles encenaram uma intervenção maciça, incluindo resgates de instituições financeiras sistemicamente importantes (SIFIs) e compras sem precedentes de títulos no mercado aberto, chamado de afrouxamento quantitativo (QE). Isso se mostrou necessário para evitar um colapso econômico e financeiro global. Hoje, no entanto, o Federal Reserve dos EUA deu início a uma reversão maciça do QE, reduzindo seu balanço patrimonial ao permitir o vencimento de seus títulos sem reinvestir os rendimentos. Isso representa uma retirada significativa da liquidez do sistema financeiro e a remoção de um fator-chave para os preços dos ativos financeiros nos últimos dez anos.


Além disso, o Fed está empenhado em combater a inflação com aumentos das taxas de juros.
Essa iniciativa de política também está aumentando o apelo de caixa e equivalentes de caixa em relação a ações e títulos, reduzindo ainda mais a liquidez do mercado. Nesse sentido, um relatório recente do gigante bancário HSBC cita dois riscos principais para 2019, como aumentos das taxas do Fed e um mercado de títulos corporativos dos EUA que já se tornou “estruturalmente ilíquido”. O HSBC citou esses dois como dois dos 10 maiores riscos para a economia mundial e o sistema financeiro em 2019, de acordo com a Investopedia.

Olhando para a Frente


Se uma nova crise financeira está ou não no horizonte depende de muitos fatores.
Uma é se a economia mundial continua forte ou entra em recessão. Outra é se a desregulamentação bancária nos EUA removeu obstáculos desnecessários à lucratividade ou removeu salvaguardas prudentes contra uma nova crise, mesmo em meio a uma economia americana cujas perspectivas parecem saudáveis.